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Bruno Jesus
A Elysia timida foi descrita pela primeira vez no
início do século XIX
Fingem ser como as plantas, caso raro entre os animais. Podem ser tão boas ou
até melhores do que as algas a usar a luz do Sol na obtenção do seu alimento -
como agora descobriu uma equipa de biólogos portugueses.
Como um vampiro, faz um pequeno furo na alga. Depois, suga-lhe todo o
conteúdo celular e passa a comportar-se como uma planta, usando a luz solar para
produzir parte do seu alimento. Só que não é uma planta, nem lá perto - é uma
lesma-do-mar.
Três biólogos portugueses foram de propósito apanhá-la em
dois locais do Mediterrâneo e publicaram um artigo na revista Journal of
Experimental Marine Biology and Ecology com o que descobriram: ela pode ser mais
eficiente na fotossíntese do que as algas que come.
A Elysia timida, o
nome científico desta espécie de lesma-do-mar, foi descrita pela primeira vez no
início do século XIX. Faz parte de um grupo designado por lesmas-do-mar movidas
a energia solar, que é conhecido há bastante tempo. Quase desde a sua descoberta
que se percebeu que têm capacidade de fazer fotossíntese, diz Bruno Jesus, um
dos autores do artigo, do Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa. "Era estranho serem verdes."
É que esse roubo não
é discreto. Quase todas as lesmas-do-mar fotossintéticas, capacidade rara entre
os animais, são verdes. Esta cor é-lhe conferida pelas estruturas mais
importantes das plantas para a fotossíntese - os cloroplastos. Ou seja, as
fábricas de energia das plantas.
Entre as 6000 espécies de lesmas-do-mar
descritas até agora em todo o mundo, conhecem-se quase 300 movidas a luz solar,
todas a viver em associação com algas verdes que podemos ver com frequência nas
praias.
Tal como a alga que come, a Acetabularia acetabulum, a Elysia
timida não mora nas costas portuguesas. Vive em profundidades baixinhas e em
zonas onde há muita luz. "Bastou andarmos de óculos em apneia que se apanhou
bem", conta Bruno Jesus.
Em Portugal continental, também há uma lesma
fotossintética, só que de outra espécie (a Elysia viridis). Mas a equipa de
biólogos - que inclui ainda Patrícia Ventura, do mesmo centro de oceanografia, e
Gonçalo Calado, da Universidade Lusófona - elegeu a prima mediterrânica para as
suas investigações, porque, entre outros aspectos, os pigmentos fotossintéticos
que ela rouba à alga são bastante claros, o que os torna mais fáceis de estudar.
Uma só célula gigante
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