segunda-feira, 26 de julho de 2010

A conservação da diversidade biológica II

(Continuação)...
Desde a sua existência, o Homem tem sido um devastador do meio natural, atitude essa que o responsabiliza pela actual taxa de extinção de espécies e da rápida destruição do ambiente. (…) Nos últimos 50 anos, o Homem modificou os ecossistemas mais rápida e extensivamente que em qualquer intervalo de tempo equivalente na história da humanidade, em geral para suprir rapidamente a procura crescente por alimentos água pura, madeira, fibras e combustível” (AM, 2005: 17)·
Especialistas afirmam que o problema da excessiva degradação da biodiversidade, ao longo do tempo, tem origem na errada percepção dos decisores de políticas económicas sobre a real importância dos valores associados à biodiversidade e à conservação dos ecossistemas (Miguel, J : 2008). Neste sentido, Myers refere algumas das razões existentes para manter uma alta biodiversidade:
·                   Permitir a continuação dos processos evolutivos
·                   Salvaguardar o papel que os ecossistemas desempenham na regulação do equilíbrio da biosfera, particularmente na manutenção das estabilidades climáticas local, regional, e mesmo global
·                   Salvaguardar os recursos aquíferos – evitando as inundações e a erosão do solo, e mantendo as reservas
·                   Garantir a existência de organismos que possam ser objecto de investigação;
·                   Garantir a existência de ecossistemas que possam servir de exemplos de estudo;
·                   Assegurar o fornecimento de materiais com utilização, por exemplo, na construção e na alimentação;
·                   Conservar bancos de genes para utilização futura pelo homem
·                   Garantir a existência de áreas selvagens para fins de educação e de recreio
·                   Proporcionar lucros gerados pelo turismo
Fonte: Adaptado de Myers, 1981:141-54
Independentemente do pressuposto que está por trás de cada razão (utilitário, filosófico, ou outro) a perda de biodiversidade que se regista actualmente é bastante acelerada, desaparecendo, cerca de 27 000 espécies por ano (Wilson: 1992).
A Conservation International (CI) fundada em 1987 é uma importante entidade, de entre muitas outras, que se tem esforçado para preservar áreas onde a biodiversidade está ameaçada. Como missão a CI pretende “conservar a biodiversidade do planeta e demonstrar que as sociedades humanas podem viver em harmonia com a natureza”
Numa tentativa de enfrentar este grande desafio a Conservation International desenvolveu um modelo a que denominou “estratégia dos Hotspots[1]”. Seleccionou 25 pontos correspondentes às 25 regiões mais ricas e ameaçadas do mundo e lançou uma campanha mundial para proteger estes Hotspots, segundo os responsáveis esta atitude permite-lhes contribuir para salvar mais de 60% de toda a diversidade da vida da Terra.
Segundo, Myers, tendo em conta que os conservacionistas estão longe de poder salvar todas as espécies ameaçadas, até porque economicamente tal era incomportável, a escolha destes 25 pontos críticos tem patente que a biodiversidade não está igualmente distribuída pelo planeta, sendo que cerca de 60% de todas as espécies de plantas e animais estão concentradas em apenas 1,4% da superfície terrestre.
Essa abordagem dá prioridade às acções nas áreas mais ricas - como os Andes Tropicais, Madagáscar, Indonésia, entre outros - protegendo espécies em extinção e mantendo o amplo espectro de vida no planeta Os critérios mais importantes na definição de Hotspots é a existência de espécies endémicas e o grau de ameaça ao ecossistema, sendo consideradas como Hotspots, as bioregiões onde 75% ou mais da vegetação original tenha sido destruída. Muitas áreas mantém apenas 3 a 8% do que existia inicialmente, como a Mata Atlântica, que hoje guarda entre 7 a 8% de sua extensão original (Myers, 2000).
De acordo com o MA, cerca de dois terços dos serviços ecossistémicos à escala global encontram-se em declínio, incluindo o abastecimento de água doce, a produção de pesca marinha, o número e a qualidade de locais de valor espiritual e religioso, a capacidade da atmosfera se auto-purificar, eliminando poluentes, a regulação de desastres naturais, a polinização, e a capacidade dos ecossistemas agrícolas de controlar pragas.
O mesmo estudo evidenciou que os ecossistemas da Europa, comparativamente com os ecossistemas dos restantes continentes, registam uma maior fragmentação, ou seja, aqueles em que a redução da biodiversidade induzida pelas actividades humanas foi mais grave, afectando numerosas espécies e diferentes tipos de habitats, como é o caso das zonas húmidas costeiras.
Os especialistas do MA afirmam, ainda, que o planeta perdeu a maior parte das zonas húmidas e terras agrícolas de elevado valor natural, e que muitos dos ecossistemas marinhos e costeiros encontram-se degradados, compreendendo reduções significativas de populações e mesmo extinções.
Em Portugal, mais de 19% dos anfíbios, 26% dos mamíferos, 32% dois répteis e 38% das aves encontram-se, actualmente, ameaçados de extinção.
Segundo as pesquisas levadas a cabo por cientistas da UNEP desaparecem, por dia, entre 50 a 100 espécies. Previsões dramáticas apontam que até meados deste século desaparecerão 2 milhões de espécies de animais e 60.000 espécies vegetais (ALLÉGRE, 1996).
Os programas de trabalho da Convenção sobre Biodiversidade reconhecem cinco ameaças principais responsáveis pelo declínio da biodiversidade: espécies exóticas invasoras, mudanças climáticas, carga de nutrientes e poluição, modificação de habitats e sobre-exploração.
Se a nível global a ameaça sobre a biodiversidade é intensa, nas áreas costeiras esta encontra-se fortemente fragilizada. Intrinsecamente ligada às elevadas densidades populacionais, concentram-se as actividades económicas, infra-estruturas de transporte, estando ainda sujeitas a grandes pressões turísticas, “No que respeita aos ecossistemas costeiros e marinhos, não existem dúvidas da magnitude dos impactos da acção humana no litoral, já que estas são as áreas com maior densidade populacional, albergando cerca de 80% da população mundial em apenas 500 000 km de comprimento” (Andrade, 1997).
Segundo Gonçalves, os sinais de alarme, indicadores de que temos um grave problema entre mãos são variadíssimos: a diminuição da abundância de muitas espécies com interesse comercial (ex, bacalhau, espadarte, atuns etc.); o aumento dos fenómenos de poluição costeira; eutrofização; a erosão costeira acelerada provocada essencialmente pela retenção de sedimentos nas barragens, pela construção de pontões, esporões e outras obras no litoral, e pelo aumento do nível do mar; as alterações irreversíveis de muitos ecossistemas costeiros devido à sua devastação por artes de pesca destrutivas; as alterações faunísticas induzidas pelas alterações climáticas etc. (Gonçalves, 2006).
Embora os dados do Millenium Ecosystem Assessment pareçam subestimar um pouco o impacto das alterações climáticas na perda de biodiversidade comparativamente com as restantes, no caso dos ecossistemas costeiros o impacto das alterações climáticas é considerável; por exemplo na Europa vários estudos afirmam que a subida do nível do mar originará uma migração das praias para o interior e perder-se-ão até 20% das zonas húmidas costeiras, bem como muitos habitats de espécies que se reproduzem em zonas costeiras baixas (National Geographic, 2008).
Segundo o relatório português do Millennium Assessment, no nosso país, à semelhança do que se regista a nível global, a biodiversidade dos ecossistemas costeiros e marinhos, apresentam um cenário regular ou pobre e muito embora ambos seguirem a tendência de evolução de deterioração, os ecossistemas costeiros registam uma situação mais crítica. Na sua origem encontram-se as mesmas causas que fragilizam os ecossistemas à escala global.
Crê-se que todos os esforços conjuntos poderão minimizar e, quiçá, travar a grande perda de biodiversidade, pondo em prática os pressupostos do desenvolvimento sustentável: usufruir, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras satisfazer as suas próprias necessidades.
Este é claramente um dos grandes desafios e paradigmas do século XXI. Que cada um de nós faça a sua parte!
[1] O conceito dos Hotspots foi criado em 1988 por Norman Myers que estabeleceu 10 áreas críticas para a conservação em todo o mundo. Esta estratégia foi adoptada pela Conservation International para estabelecer prioridades nos seus programas de conservação, assim como pela John D. & Catherine T MacArthur Foundation. Em 1996, um novo estudo liderado pelo Dr. Russell A. Mittermeier, presidente da Conservation International, aperfeiçoou a teoria inicial de Myers, identificando 17 Hotspots. Estudos mais recentes, conduzidos com a contribuição de mais de100 especialistas, ampliaram e actualizaram esta abordagem. Após quatro anos de análises, o grupo de cientistas estabeleceu os 25 Hotspots actuais. In http://www.biodiversityhotspots.org
In: Um Olhar sobre a Biodiversidade
Autora: Lurdes Soares

1 comentário:

Lilá(s) disse...

Agir é preciso e com rapidez...
Bjs