quarta-feira, 21 de julho de 2010

Diversidade biológica


Foto: APA
O conceito de diversidade biológica – ou biodiversidade – é, ao mesmo tempo, difícil de definir e extraordinariamente vasto e abrangente, englobando toda a variedade de formas que a vida assume, em todos os seus níveis de complexidade, desde o gene até aos ecossistemas (no limite, à biosfera).

Por onde começar então?
Na zona intertidal de uma praia rochosa observa-se facilmente uma grande variedade de animais, entre crustáceos (camarões, caranguejos, cracas, percebes), moluscos (mexilhões e outros bivalves, vários búzios, polvos, chocos), minhocas de diferentes tamanhos e cores, esponjas, cnidários (anémonas e penas-do-mar), equinodermes (estrelas-, ouriços- e pepinos-do-mar), para referir apenas os mais evidentes. Também as praias sedimentares (de areia e vasa), que podem, à primeira vista, parecer desertos onde salta uma ocasional pulga-do-mar, albergam dezenas a centenas de espécies de animais no seio do sedimento. Depois, há as plantas: algas verdes, vermelhas e castanhas, de muitas formas e tamanhos, uma enorme variedade de plantas que florescem nos sapais e dunas, sem esquecer as ervas-marinhas, plantas com flor que vivem na água salgada. Também os líquenes estão presentes, com formas mais discretas, que fazem pensar em rocha suja, ou mais exuberantes, formando pequenos tufos de cores variadas.
No cômputo da biodiversidade no litoral, há ainda que incluir todos os peixes, aves e os ocasionais mamíferos que visitam a praia e, para concluir o inventário, não se podem deixar de fora incontáveis espécies de fungos, bactérias e vírus que povoam estes ambientes e/ou os organismos que deles fazem o seu lar. Falámos só de espécies e já o número é, pelo menos, da ordem dos milhares. Considerando que cada espécie é ainda a súmula da variabilidade de todos os seus genes, nas suas infinitas combinações, que permitem aos indivíduos adaptarem-se, melhor ou pior, aos ambientes que ocupam, o número de diferentes formas vivas numa dada área – a sua biodiversidade total – aumenta, provavelmente, de várias ordens de grandeza. Deve-se ainda ter em conta a unicidade de cada ambiente, de cada praia, de cada zona costeira. Por muito semelhantes que pareçam à primeira vista, em cada local há uma combinação única de condições ambientais e de organismos, o que faz com que não haja, verdadeiramente, duas comunidades iguais.
Na “zona terrestre contígua” encontramos, para além de tudo o mais, um mamífero hominídeo altamente modificador do seu ambiente. Mesmo nesta era da globalização e da normalização, ainda assim conseguimos encontrar especificidades locais, antropológicas e sociais, que constituem a identidade particular de cada comunidade humana costeira, mesmo nas mais descaracterizadas. E, porque somos parte integrante da comunidade costeira, a diversidade de hábitos, práticas e vivências humanas na e com a costa é também mais um aspecto da biodiversidade litoral.
Porém, tanto o litoral como a biodiversidade estão, em muitos casos e cada vez mais, em erosão. Se da erosão litoral se fala já amiúde (sem por isso se encontrarem, em demasiados casos, respostas viáveis e sustentáveis para os problemas), já a erosão da biodiversidade é frequentemente esquecida. No entanto, também a biodiversidade litoral se encontra em erosão, ameaçada, entre outros aspectos, pela introdução de espécies exóticas que se sobrepõem às autóctones ou pela artificialização de longos troços da costa, mas também, no que diz respeito à componente humana, pela desvalorização e perda de conhecimentos e práticas ancestrais de utilização e ocupação sustentada do litoral – da cultura costeira.
Ao longo desta campanha e enquanto monitorizávamos o litoral vimos, tal como em anos anteriores, que continua pejado de todo o tipo de resíduos, que se continua teimosamente a tentar estabilizá-lo, apesar de sabermos como é inerente e necessariamente dinâmico, e que continuamos paulatinamente a depauperá-lo.
O que aprendemos então de novo ao longo desta campanha? Claro que a resposta será diferente para cada um dos participantes de nós mas, ao lançarmos um novo e mais profundo olhar sobre a biodiversidade, certamente que cada um de nós passou a conhecer melhor aquilo que torna única a praia, ria ou poça, em suma, aquele pedaço da costa de que tanto gostamos e a que chamamos “nosso”. Dessa forma, tornámo-nos cidadãos costeiros mais informados e, quem sabe, mais pró-activos na defesa do nosso litoral.

Maria Adelaide Ferreira é bolseira no Laboratório Marítimo da Guia

Sem comentários: